quinta-feira, 6 de março de 2008

Etnia Balanta

Organização Social: Nunca desenvolveram uma organização socio-política centralizada. A base da sua estrutura política é a aldeia que é governada pelo Conselho dos "Cabeça de Família". Este tipo de organização não impediu que os Balantas tenham feito frente, durante os últimos séculos da sua história, a importantes ataques do exterior, até a sua independência étnica e política, evitando a sua absorção e domínio por parte dos poderosos reinos vizinhos.
Matrimónio: Entre as muitas particularidades que caracterizam este povo, faz-se aqui referência aos seus costumes em torno do matrimónio. Quando uma adolescente atinge a idade para se casar, os parentes mais velhos começam a visitar os pais dela para falar sobre o seu futuro. Se sentam, acompanhados de 1 litro de bebida alcoólica local, com que os pais da rapariga entretêm os parentes mais velhos. Depois de consumida a bebida, fazem-se mais nove rondas com os seus respectivos 9 litros de bebida alcoólica. Depois "destes dez litros tradicionais" terem sido consumidos, chega o momento de falar abertamente da futura cerimónia de casamento, o "Djida" na língua Balanta.
Na casa dos pais da adolescente, deixam de molho um punhado de cereais (milho preto) que depois cobrem com umas ervas especiais. Depois de alguns dias, os cereais germinam e são moídos para se fazer farinha. No dia seguinte começa-se a fazer um vinho especial com esta farinha. Quando o vinho fermenta e fica apto para o consumo, o "Djida" pode começar.
Uns 15 ou 20 adolescentes masculinos e duas tias paternas acompanham em procissão a noiva ao lugar do casamento. A noiva, para esta ocasião, se veste com um pano tradicional feito manualmente e um lenço de cor negra atada a volta da sua cabeça. Se oferece uma cabra e vinho aos acompanhantes da noiva em gesto de gratidão. Se mata a cabra, se assa e se come num banquete com uma grande quantidade de vinho, durando toda a noite.
No dia seguinte, muito cedo, os acompanhantes voltam a casa. Entre às 9 e às 10 da manhã, um grupo de 20 a 30 pessoas vai em procissão a casa. Esta procissão não deve cruzar-se no seu percurso com os acompanhantes do dia anterior. Se acontecer, uns dos grupos deve mudar a sua tranjectória.
O grupo que vai saudar a noiva de manhã não vai alí directamente, porque antes tem que passar pela casa de uma determinada pessoa. Essa pessoa é eleita de antemão para actuar como representante do pai da noiva. Se no futuro surgirem problemas entre os recém-casados, estes terão que ir ter com essa pessoa para que ela os ajude a resolver os seus conflitos. Essa pessoa pode ser um parente ou uma pessoa digna de confiança. É como se fosse um padrinho, e ela conduz a procissão a casa do "Djida".
A sua chegada, o primeiro alimento a ser servido se chama "Kop kif"; somente depois de terem provado esse "Kop kif" se servirão as bebidas, água incluída. Este costume é sagrado. "O Padrinho" oferece um pouco de aguardente aos espíritos dos antepassados, vertendo-a ao chão, enquanto os pede em voz alta que faça com que a noiva fique grávida quanto antes e dê um bebé saudável aos recém-casados. A cerimónia do casamento dura dois dias.
Depois da união, a noiva permanece na sua casa durante um mês inteiro. Uma semana depois do casamento, a recém-casada tem que ser lavada. É um ritual que se leva a cabo ao amanhecer e começa com os gritos característicos de uma mulher que despertam a aldeia inteira. Estes gritos são seguidos pelos sons de tambores. Isto é um sinal para que todos os homens e adolescentes masculinos deixem a aldeia até ao ocaso. Durante o dia as mulheres realizam certos rituais secretos que as mulheres balantas nunca compartilharão com ninguém.
Religião: Em 1984, "Ntombikte", um balanta considerado como profeta, cria o movimento Kiyang-yang, que se estende rapidamente. Em junho de 1985, o Governo detém alguns dos seus líderes e os mete na prisão durante algum tempo. Em 1986 o governo adopta medidas que proíbem as actividades religiosas e curativas dos grupos Kiyang-yang e o uso dos seus objectos rituais e plantas medicinais. Entre estas se proíbe o uso de um extracto líquido preparado com raízes de uma planta chamada "Tchunfki", durante os rituais religiosos, devido às suas propriedades psicoativas.
Mais tarde, uma senhora que estava passando por uma crise psicótica depois da morte de seu filho recém-nascido, disse ter sido elegida por Deus e por Ntombikte. Contra os costumes, a mulher cria uma nova aldeia, onde se instala com os seus filhos. Mulheres e adolescentes se juntaram a ela, criando logo novas unidades residenciais. Apesar de todos os seus membros serem da etnia balanta, eles dizem que se reúnem como filhos de "N'haala" (Deus) e asseguram que chegará o dia em que todas as nações contarão com os filhos da comunidade. Descuidando-se nas invocações aos espíritos dos antepassados, as comunidades Kiyang-yang minam as bases ideológicas da organização tradicional. A saúde e o bem-estar material não virão das invocações ou sacrifícios aos espíritos feitos através de determinados intermediários, se é que os discípulos de Ntombikte se dirigem directamente a Deus, passando dos adivinhos e sacerdotes tradicionais. Pouco a pouco vai-se elaborando todo um manual de rituais e rezas. A diferença nos trajes de uma hierarquia baseada na pureza, donde se distinguem os que levam uma roupa branca dos outros, substitui a tradicional divisão em dez "classes de idade" masculinas e cinco femininas. Da mesma forma que no islamismo e no cristianismo, cada comunidade constrói uma casa de oração para realizar as rezas em comunidade. A direcção religiosa está a cargo de mulheres e homens jovens, ao contrário da organização social tradicional, baseada numa senioridade, governo dos mais velhos.

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